sábado, 31 de julho de 2010

Super Nannys do Congresso


Pais e mães agora terão que pedir benção ao Juiz para educar os seus filhos se aprovada for a “Lei das Palmadas”.

Lembro-me das peraltices de infância, das bolas nos portões de vizinhos, dos machucados após a pelada e das inúmeras discussões de meninos que, no final, culminavam em novas brincadeiras como pega-pega, garrafão, finca, corrida de carinho-de- rolimã, soltar papagaio e outros prazeres de meninice que hoje, só me restam na saudade e nas lembranças bucólicas.

No entardecer, ao cair da noitinha, por volta das 6 da tarde, minha mãe ou o meu pai ordenava o meu regresso ao lar. Com rejeição obedecia com desagrado. Mas ordem de pai e mãe jamais ousava desobedecer!... Que, no entanto, como todo menino, de vez em quando precisava de umas palmadas e beliscões para tomar juízo e aprender que pai, mãe, irmãos mais velhos e professora jamais devem as crianças desrespeitar. E como toda família naquele tempo, havia uma hierarquia fundada no amor, carinho, respeito e castigos... uns brandos e outros nem tanto. Ah, que saudades do tempo de moleque... das várias descobertas de mundo!

Assim, quanto mais converso e procuro entender, mais me convenço de que esta história de que os pais e responsáveis precisam de uma “Lei das Palmadas” para saber como devem criar e educar seus rebentos não passa de uma ignorância e cretinice.

Digamos que o projeto de lei enviado pelo governo federal ao Congresso no começo de julho, seja aprovado, fica duas simples perguntas que, acredito, ficarão sem respostas: como poderá tal lei ser cumprida na prática? Quais e como serão aplicadas as sanções aos pais que castigarem os seus filhos sem interferir na conduta e hierarquia de cada família?

Em minha opinião é mais uma “balela”, um não-assunto, um desperdício de tempo e massa encefálica que está gerando polêmica e discussões absurdas num momento político crucial em que o Brasil está atravessando, as eleições 2010. Momento em que os brasileiros residentes dentro e fora do país terão a oportunidade de redefinir a postura e os caminhos de um futuro melhor para a nossa nação.

“Lei das Palmadas” tornou-se manchete em jornais impressos, capa de revistas, tema de pesquisa, discussões em porta de botequins, conversas de salão de beleza e porque não dizer, uma dor de cabeça para pais, avós e tutores. Não sou pai e para falar a verdade, tenho medo de ser, do jeito que anda a carruagem. Mas ao ver os meus sobrinhos, orgulho em dizer que mesmo levando palmadas e “surras” de varas e cintos, meus irmãos souberam criar os seus filhos, pois os que não estão na universidade, já são formados e digo ainda, tornei-me tio-avô. Enfim, orgulho da educação dos jovens de minha família; papai e mamãe souberam nos criar... sem ajuda ou intervenção Executiva, Legislativa e Judiciária. Enfim, acho tal projeto um tanto quanto sem graça e propósito.

Vamos imaginar, se há como, uma criança indo à delegacia de polícia para denunciar a própria família, os seus pais, por ter levado uns tapas na bunda ou uns puxões de orelha ou mesmo uma repressão mais ferrenha? E a autoridade policial acata a denúncia e prende os pais? A Justiça vai processá-los e retirar-lhes o pátrio poder? E quem irá educar e ajudar tais crianças em suas evoluções cívicas, religiosas, morais, éticas e outras, essenciais para a formação de um cidadão honesto e cumpridor de seus deveres e ciente de seus direitos. Acredito que tamanha tarefa seja impossível para o criador de tal lei, pois, infelizmente, as inúmeras crianças e jovens que estão na rua a mercê de todos os tipos de violência, drogas e mazelas imploram por ajuda desde que me entendo por gente e desde então, o que vejo são várias campanhas estimulando a sociedade civel a fazer o papel que por direito não é dela.

O texto da lei defende “o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante”. Confesso, até este ponto estou de acordo, pois “tratamento cruel e degradante” contra qualquer ser vivo ou não é crime já previsto em lei desde que o mundo é mundo. Mas de que tipo de “punição” ou “castigo corporal” está se falando?
Analisando os resultados da pesquisa Datafolha sobre a “Lei das Palmadas” divulgados nesta semana, 72% dos pais brasileiros deveriam estar na cadeia porque foi este o percentual de entrevistados que declararam já ter sofrido algum castigo físico na vida. Eu mesmo, digo, já levei algumas palmadas, beliscões, puxões de orelha, cascudos e até reguadas. E confesso ainda, só não bati porquê ainda não sou pai.

O que vejo por aí é o aumento de crianças e jovens envolvidos com drogas, assassinatos, roubos, furtos e outros delitos, ou seja, com a tentativa da nova sociedade em tornar a hierarquia familiar algo obsoleto em que todos são iguais perante tudo, no caso de cada lar, o que se pode perceber é o crescimento de crimes perversos em que filhos matam pais e pais matam filhos. Ou seja, todas as estatísticas indicam que, a cada dia, os brasileiros estão respeitando menos a vida alheia, ficando mais violentos, matando por qualquer motivo, razão ou mesmo sem motivo ou razão.

Penso no qual desocupado pode ter gerido tal absurda ideia que serve somente para motivar implantação de conflitos e gerar mais ainda discussões sobre a tentativa do governo federal em querer erradicar as liberdades individuais ao interferir ou intrometer o Governo, ou melhor, o Estado na relação entre pais e filhos. Como se o Estado tivesse infraestrutura para conter a avalanche de ecléticas violências presentes em nossa sociedade.

Somos contra qualquer tipo de violência praticada contra as crianças e jovens, sejam nossos filhos ou não, mas já existe o Código Penal, que pune severamente tais crimes. Mas, querer retirar dos pais o direito de saber o que é melhor para educar seus filhos é um descabimento total e lastimável.

Nas diversas estratificações sociais, o que se segue é um aumento exacerbado do desrespeito dos jovens aos pais, a família, aos mestres e educadores, vítimas até de agressões violentíssimas de alunos “menores protegidos por lei” que se sentem no direito para fazer o que bem entendem; jovens que só visam e primam os seus “direitos adquiridos e protegidos por lei” que, infelizmente, desprezem e desconhecem por completo ou por ignorância, ou por oportunidade, os seus deveres. A maior prova disto é o aumento de jovens assinados ou envolvidos no submundo do crime organizado.

Não sou pai e nem tutor, mas sei que cada um tem o seu jeito de educar os filhos. Isso varia de cada casta familiar. Pais e mães muitas vezes discordam sobre os corretivos que devem aplicar quando os filhos não os obedecem em diversas situações, de ficar na rua até tarde ou mesmo de passar horas em jogos eletrônicos.

Enfim, dar um cascudo ou, uns bons tapas na bunda, colocar de castigo sem ver TV, acessar o computador ou mesmo cortar a mesada é decisão de cada pai ou mãe. Afinal, não existe uma receita de bolo que sirva para todos.

Antes de tudo, é preciso ter bom senso, dedicar mais tempo a conversar com os filhos e educá-los, abrindo seus olhos para as armadilhas do mundo. E principalmente, os pais que vivem nas metrópoles devem dedicar mais tempo aos filhos e não deixar a educação de seus por conta das escolas e “Super Nannys”.

Para finalizar, aos Ilustríssimos membros do Congresso e outras esferas dos governos municipal, estadual e federal, ficam os nossos desejos em concentrarem suas magnânimas “cabecinhas” para coisas mais necessárias como a erradicação da pobreza, analfabetismo e a recuperação da nossa saúde, que está cada dia mais doente, sem falar no atendimento a população cada vez mais medíocre.

Um comentário:

  1. Essa lei não merece nem ser comentada, visto que é um desvio de atenção para aspectos mais importantes. Acredito que "mamãe bate porque mamãe ama" Espancamento, abusos é outra coisa, e já existe leis que protegem crianças e adolescentes contra esses atos deferidos seja pelos pais ou qualquer outra pessoa, já a lei da palmada, acredito não ter nada mais a dizer. Belo texto Wenderson!

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